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ZILDA BRANDÃO

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Zilda Brandão
10/08/2011 às 10:6hs


Andrea Matarazzo
Secretário de Estado da Cultura


Desde a época em que implantei as melhorias na infraestrutura da região da Luz como então Subprefeito da Sé e depois Secretário das Subprefeituras de São Paulo, há seis anos, venho observando atentamente o flagelo dos dependentes químicos na cracolândia. E posso afirmar: viver em completo estado de degradação não é uma escolha consciente. Ninguém que esteja gozando minimamente de sua vontade própria pode considerar como opção a realidade dessas pessoas que seguem, todos os dias, a única alternativa que a droga lhes proporcionou, como uma dura sentença de morte.

Todos sabemos o quão forte e destrutivo é o vício e o quão difícil é sair dele. Nos últimos dias, a internação compulsória tem sito citada como uma possibilidade real de tratamento para quem chegou ao último estágio da dependência. O tema surge envolto em polêmica e contraposto ao direito de escolha que é e deve continuar sendo um direito sagrado, mas se tal liberdade já está tolhida pelo uso indiscriminado de drogas, não vejo como desconsiderar a prioridade do direito à vida.

Quando um dependente ainda tem a atenção de sua família e esta tem condições para tanto, a internação compulsória é um ato de amor. No nível mais alto do flagelo causado pela droga, ele já abandonou a família ou foi abandonado por ela. Não pode também ser abandonado pelo poder público. A meu ver, isto é omissão de socorro.

Obviamente, a internação compulsória deve ser o último estágio de uma política pública baseada na prevenção e na repressão ao tráfico, e isso não se faz apenas com polícia. Enquanto estivemos na prefeitura, lavamos as ruas duas vezes ao dia, iluminamos a região da Luz, fechamos bares, hotéis, ferros-velhos e diversos estabelecimentos ilegais usados pelo crime.

Tudo isso inibiu a presença do traficante, mas em nada melhorou as condições de saúde daqueles que por lá vagavam acendendo seus cachimbos. Para mim, essa experiência deixou claro que se aquelas pessoas não fossem afastadas dali para tratamento adequado, nada seria capaz de salvar suas vidas.

A internação compulsória não é prisão, não é criminalização, tampouco é varrer o problema para debaixo do tapete. A questão é urgente. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou recentemente os resultados de uma pesquisa com 131 usuários de crack atendidos em uma enfermaria de desintoxicação em São Paulo. Em doze anos, dos 107 pacientes, 27 tinham morrido – a maior parte, de morte violenta ou AIDS – dois estavam desaparecidos, 13 foram presos e outros 22 continuavam usando a droga. Apenas 43 deles conseguiram se curar do vício.

O número pequeno, mas nos dá esperança. Só não podemos esperar que a esperança aja sozinha. O Estado precisa fazer sua parte.


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