Projeto Onça Pintada no Pantanal Mato-grossense envolve o setor de turismo e fazendeiros
Com cerca de 2.095 onças catalogadas pelo Projeto Jaguar na região norte do Pantanal com o apoio da Pousada Piuval
Depois da morte da onça ‘Queixada’, que era um jovem macho e vinha sendo monitorado desde novembro de 2021 pelos cientistas da Jaguar Identification Project, a necessidade de preservação da espécie ganhou força na região de Poconé, no Mato Grosso. “Sempre nos interessamos por preservação e já contávamos com o Projeto Jaguar no trabalho de catalogar os animais desde 2017, mas decidimos nos aprofundar nestas ações e agora contamos com um membro da instituição dentro da Fazenda Ipiranga, pois aqui é um dos poucos lugares do Pantanal Norte onde as onças podem ser avistadas com facilidade” explica Eduardo Eubank, diretor da Pousada Piuval.
Segundo ele, o trabalho do projeto é muito importante para a ciência, pois estuda o comportamento da onça e, por consequência, a sua cadeia alimentar, contribui para o meio ambiente e a preservação, e ainda colabora para o trabalho de turismo. “Pessoas do mundo todo vem ao Pantanal dispostas a ver a onça pintada, o que é muito bom para a economia local e empregabilidade da população da região”, detalha.
Como forma de contribuir com os estudos e ações desenvolvidas pelo projeto, a Pousada Piuval, atualmente dá toda assistência necessária aos estudos e hospeda em suas dependências o biólogo Paul Radd, que também está fazendo mestrado na UNESCO. “Aceitei o desafio, pois, sou um defensor da causa e gosto do equilíbrio com o ecossistema que existe aqui na pousada, que é uma fazenda com gados e, mesmo assim, as demais espécies circulam tranquilamente pela propriedade sem serem agredidas. Em outras fazendas nem sempre são amigáveis com a natureza, como no caso da onça morta, que tocou o coração de muitas pessoas, levando a uma mobilização maior com foco na preservação. Fui chamado aqui para que a ciência proteja e cuide das onças”, explica o pesquisador.
Para Paul Radd o trabalho de turismo na região é benéfico a natureza, pois os visitantes também protegem, quando desenvolvem um ingresso sustentável a região, valorizando a fauna e a flora, pois, se tornam vigias preservacionistas, auxiliando na redução de focos de incêndio e na matança de animais. “No trabalho que desenvolvemos com as onças, esses turistas, que respeitam e amam a natureza, contribuem financeiramente e compram equipamentos para o projeto. Para reforçar isso, a cada novo grupo de turista que chega, faço um trabalho de conscientização através de palestras”, destaca.
Ele explica que alguns fazendeiros apoiam o projeto, como é o caso da Fazenda Ipiranga, porém, outros matam, por medo de perderem os bezerros do rebanho: “Eles não entendem que isso acontece porque comem a capivara e eliminam o alimento da onça. Estou pesquisando os cadáveres de animais que surgem por aqui, para descobrir se foi a onça mesmo, se tem pegadas ou se ocorreu de outra forma”. Eduardo Eubank explica que anualmente a fazenda perde cerca de 10 a 30 bezerros. “O projeto pode nos ajudar a entender quais são os predadores, pardos ou pintados, e que ações mitigatórias podem ser feitas para minimizar essas perdas. Por outro lado, os fazendeiros também podem abrir suas fazendas para visitação turística e cobrar uma taxa de visualização, sendo restituídos de eventuais perdas. Eles precisam entender que a onça viva pode ser benéfica”, completa.
O Jaguar identification Project, já atua no norte do Pantanal desde 2013. A organização, sem fins lucrativos, utiliza a ciência cidadã para construir um banco de dados coeso sobre onças-pintadas, através de imagens de câmeras instaladas em pontos estratégicos, que monitoram a abundância populacional e densidade. Eles também colhem o material fecal da onça, para estudo em laboratório. “A localidade de Porto Jofre, também em Poconé, já há um trabalho consolidado com as onças, porém em outras regiões, como na da Piuval, que também possui muitas onças pintadas, o trabalho está apenas no início. Mas, para darmos continuidade e mais agilidade aos estudos precisamos de doações e financiamentos, além de mais biólogos voluntários. Os gastos nas pesquisas, são muitos, como: com carros com tração 4x4 para a logística dos estudos; com equipamentos de gravação para monitoramento das onças; com a manutenção e remuneração dos profissionais. A ciência e o ecoturismos são formas de proteger as onças, porém é necessário mais incentivos não só dos turistas, mas também de empresas brasileiras e fazendas da região, que podem dar bolsas ou acolher esses profissionais através de parcerias”, delineia.
Fundadora do projeto, Abigail Martin, uma bióloga Americana de Nova York, conta que já foram catalogadas cerca de 2.095 onças na região e na pousada há 12 onças sendo monitoradas. “O norte do Pantanal é muito grande, por isso o projeto precisa da ajuda de todos. Os guias e turistas da região também contribuem com os registros de fotos e imagens, que conseguem gravar em seus passeios. Com esses registros e o nosso monitoramento, estamos desenvolvendo um guia completo das onças, onde foram vistas, se tem filhos, se é fêmea ou macho, acasalamentos e diversos outros comportamentos. O nosso trabalho não é invasivo, pois fazemos apenas observações, bem sistêmico, sem coleiras, dardos, anestesia ou amostras físicas. Hoje já percebemos um aumento no número de onças na região, os registros de visualização está cada vez maior. Os hoteleiros e todos que trabalham com turismo estão mais engajados no trabalho de preservação, mas ainda temos muito para fazer”, finaliza.