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TURISMO

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Zilda Brando
07/02/2011 às 13:25hs




Quando descobri Israel Kamakawiwo’ole (Iz), ele já não estava mais entre nós. Durante anos enfrentou problemas de saúde por conta de uma obesidade mórbida, e faleceu prematuramente, aos 38 anos, em 1997.

Segundo histórias de quem o conheceu, seu caráter era tão bonito como o seu canto, que exala uma humanidade, um frescor e uma doçura de outro mundo. Apesar de ter abraçado melodias tradicionais havaianas (tentando se distanciar da “hula” turística), um dos seus sucessos mais conhecidos é o remake de  “Over the Rainbow“, que fez parte de várias trilhas sonoras do cinema e segue ainda despontando nas paradas musicais do mundo inteiro. Em dezembro de 2010, por exemplo, foi a número um na França e na Suíça.

Além de ter sido notoriamente uma figura querida, bona fide, Iz promoveu os direitos do povo nativo e também a independência do Havaí. Um dos maiores ícones locais, ele hoje segue mais vivo do que nunca na sua música, na voz do seu ativismo e em todo o belo legado que nos deixou.


Penso nele agora porque, nessa última estada no arquipélago, pude enxergar aspectos que tinham passado despercebidos nas primeiras visitas, quando meus olhos embasbacados, em constante estado hipnótico, estavam voltados acima de tudo para as belezas naturais do lugar. Dessa vez, porém, na ilha de Oahu (uma das oito principais), deu para ver com um pouco mais de clareza o “outro lado”, aquele que os guias de turismo não mencionam e tantos pontos tem em comum com a música e a própria vida do cantor, um autêntico filho do Havaí.



Além dos nativos locais, o arquipélago é povoado por americanos de diversas procedências e muitos imigrantes, especialmente asiáticos, mas a obesidade é um problema sério (crescente em todo o país, diga-se de passagem), com incidência altíssima entre a população nativa. O caso de Iz, está longe de ser uma exceção.

Os nativos consomem menos a comida tradicional havaiana, que inclui o “poi” (uma pasta feita da raiz de taro), e cada vez mais, no seu lugar, hambúrgueres, pizzas e congêneres, bem mais acessíveis ao bolso do que as frutas e verduras caríssimas do supermercado. Mais uma mudança de hábito trazida pela colonização ocidental.

Segundo o doutor Terry Shintani, especialista em nutrição, o poi é um super alimento, sem gordura e glúten, rico em vitamina B, cálcio e fósforo. Para ele, um elemento-chave na batalha para reverter a obesidade entre os nativos havaianos.

Cheguei então ao outro ponto: o excesso de consumo de fast food  é precedido pelo alto custo de vida. Os precos são mesmo “salgados” quando comparados ao restante do país. Antes de comprar uma fruta no supermercado, me vi apalpando, pesando, suspirando, mentalizando vacilante o custo-benefício, antes de me dirigir ao caixa. Muita coisa custa quase o dobro e, de fato, segundo uma pesquisa da CNBC do ano passado, o Havaí encabeça a lista dos estados com o custo de vida mais exorbitante dos EUA, ao lado da Califórnia.

A maior parte dos produtos manufaturados  é abastecida pelo restante mais afastado do país e o valor do transporte é adicionado ao custo, assim como o dos cuidados extras para conservar ao máximo alimentos perecíveis. A moradia também é cara, assim como os impostos.

É um preço alto que se paga para viver no paraíso.

Na estada mais recente em Oahu, vi cisnes negros pela primeira vez, e praias lindíssimas, cada uma com um colorido próprio. Dessa vez, além da Hanauma Bay que mencionei num texto anterior, me apaixonei também por Kailua, com árvores pertinho do mar, muita sombra e bancos para piquenique. Um bosque em plena praia, com uma vibração gostosa, tranquila.

Outra surpresa foi também dar de cara, agora em janeiro, com o navio do Jack Sparrow, o Black Pearl (Pérola Negra), ancorado por dias e dias na marina de Ko’Olina, com seu ar enferrujado e esqueletos pendurados. Estava lá ainda quando partimos.

Dirigindo perto do mar, ao longo da Costa Waianae, vimos na praia uma longa faixa de tendas precárias armadas, onde viviam famílias inteiras, sem condições para manter uma moradia. Muita gente tem carro e o usa para, de lá, ir ao trabalho. Soube que diariamente o ônibus escolar faz uma parada para pegar as crianças.

No acampamento, tem muitos americanos não-nativos havaianos, especialmente de meia idade, que não conseguiram encontrar um lugar ao sol na ilha. Há  quem tenha problemas com drogas, ou quem foi despejado pelos novos proprietários dos imóveis que alugavam (principalmente depois do boom imobiliário de 2002). Mas a maioria mesmo, dentre os grupos étnicos, é composta de nativos havaianos, que têm a menor renda no estado e, quase sempre, muitas bocas para sustentar. Estatísticas do censo de 2010 mostram que apenas Oahu totaliza hoje mais de 4 mil sem teto e, em todo o estado, de acordo com o Hawaii H.O.M.E Project, entre 12 e 15 mil pessoas por ano vão morar numa tenda improvisada em algum ponto.



Muitos nativos havaianos se perguntam por que eles são os mais pobres, com o nível de educação e saúde mais baixo e estão na rabeira de tudo no arquipélago. Além disso, o sentimento contido em algumas canções de Iz, como Hawaii ’78, continua ainda bem palpável. Na letra, ele pergunta como o rei e a rainha se sentiriam se vissem o Havaí de hoje, ” rodovias na sua terra sagrada”, “semáforos e linhas de trem”, “como  se sentiriam com essa moderna vida de cidade”:

Cry for the gods, cry for the people
Cry for the lands that were taken away

Chorariam pelos deuses, chorariam pelo  povo/ Chorariam pela terra que lhes foi tirada”

É assim que uma grande parte do povo nativo se sente até mesmo agora, com um ressentimento passado de geração a geração, por terem tido suas terras invadidas, sido expostos a doenças a que não tinham imunidade, forçados a abraçar uma cultura estranha…

Um bocado em comum com a triste história de subjugação dos nossos índios, assim como a dos índios norte-americanos no processo de colonização… E de quantos outros povos…

Há 

bandas do arquipélago em que os brancos evitam pisar, devido à hostilidade. Muitas crianças sofrem com o bullying nas escolas, por motivos raciais… Uma realidade tapada com a peneira para não prejudicar a imagem paradisíaca, cuidadosamente cultivada pela indústria do turismo.

Em 1893, a rainha Lili’uokalani, última soberana do Reino do Havaí, foi deposta e presa no Palácio Iolani. Foi quando a ocupação norte-americana começou e, pouco depois, em 1898, o território foi oficialmente anexado ao país.

Em 1959, o Havaí se tornou o quinquagésimo estado estadunidense.





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