São Pedro mantém viva a tradição do bordado manual em ponto cruz
Destino de natureza, São Pedro conquista pelas belas paisagens que surgem ao percorrer as estradinhas no alto da Serra do Itaqueri e pelo ritmo da vida no local, que indica que desacelerar é a senha para aproveitar melhor a vida. Não é à toa que a antiga tradição do município seja uma atividade que demanda dedicação e tempo. É o bordado do ponto cruz, que nos últimos tempos voltou a despertar interesse de quem valoriza o trabalho manual.
Com isso, as bordadeiras de São Pedro estão superativas. Inclusive, o Casarão da Cultura oferece oficina de ponto cruz, um misto de aula e encontro de amigas para bordar, que visa manter a tradição viva. Atualmente, são cerca de 35 mulheres que se reúnem todas as terças-feiras com bastidores, tecidos, agulhas e linhas coloridas para trocar informações sobre novos pontos e trabalhar nas peças.
Elas fazem ponto cruz em barrado de toalhas de banho e de rosto, em toalhas de mesa, caminhos, guardanapos e outras peças. “A maioria das alunas já sabe bordar e vai para a oficina para se aperfeiçoar. Mas também temos alunas que não sabiam nada e agora estão bordando”, conta Teresa Bragaia de Moraes, que é a orientadora do grupo.
Professora aposentada, ela lembra que aprendeu a bordar aos 5 anos, na fazenda, ao ver suas tias trabalhando as peças. Quando era jovem, bordava para vender e ter renda própria para comprar roupas. Depois foi lecionar, mudou-se de São Pedro e, quando retornou, há 13 anos, retomou o bordado para passar para frente o que aprendeu.
Além de manter vivo o saber do ponto cruz, o grupo das bordadeiras produz peças para serem vendidas no bazar da Paróquia de São Pedro em datas especiais. Toda renda é destinada a comprar fraldas geriátricas para famílias necessitadas. Atualmente, inclusive, estão produzindo itens para o bazar de Natal, que em dezembro também estará ao alcance dos turistas.
Peças de ponto cruz também estão à venda na Feira do Artesanato de São Pedro, que é realizada todo sábado e domingo, das 9h às 15h, ao lado da igreja matriz. É o lugar onde facilmente os turistas encontram itens de cama e banho bordados, assim como também bijuterias que empregam a técnica.
“As oficinas também ensinam ponto cruz em outros suportes que não o tecido tradicional, como folha seca e madeira. A ideia é empregar a técnica em colares, brincos e outros acessórios para que o artesanato seja mais contemporâneo e, assim, mais fácil de ser comercializado e tornar-se renda”, explica Ivan Teixeira, coordenador de Cultura de São Pedro.
Legado de 100 anos
A técnica de ponto cruz se espalhou em São Pedro há cerca de 100 anos, quando Dona Joaninha, uma imigrante italiana, morou na cidade. “Contam que ela ensinou várias mulheres da cidade e quando se mudou deixou para Ana Hermerlinda a incumbência de passar para frente o que sabia. Nas décadas de 70 e 80, formaram-se vários grupos de bordadeiras na cidade. Muitas mulheres viviam do bordado, que ficou famoso. Vinha gente de fora comprar enxoval bordado à mão”, relembra Teixeira.
Bordando aos 94 anos
O artesanato em ponto cruz está no sangue de muitas famílias de São Pedro, de uma tradição que se passa das mulheres mais velhas para as mais novas. Exemplo é Celina Nicolette, que aos 94 anos segue bordando e com rapidez e precisão invejáveis e é presença cativa nas oficinas do Casarão da Cultura. “Minha mãe sempre bordou. Aprendeu na infância e tornou-se costureira e bordadeira. Bordava peças para vender em lojas. Mas já há muitos anos se dedica a fazer peças para o bazar da igreja. Mas ela borda todos os dias, exceto aos domingos, que ela tira para ler romances”, conta a filha, Célia Nicolette Bilia, que também integra o grupo de bordadeiras.
Apesar da idade, dona Celina é muito ativa e está aberta ao conhecimento, acrescenta a filha. Recentemente, aprendeu novos pontos, que tem empregado nas peças. Célia, por sua vez, encara o ponto cruz como um hobby com efeito terapêutico. “Eu aprendi a bordar até que tarde, aos 21 anos. Fazia peças para presentear amigos, família. E só agora quando me aposentei é que passei a integrar o grupo de bordadeiras. Para mim, é uma terapia”, conta.
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